sexta-feira, 31 de julho de 2009

CARLITO´S WAY

O excelente "Carlito´s Way" (O pagamento final), de Brian de Palma (Universal, 1993) é uma boa oportunidade para se pensar na realidade dos indivíduos modernos. Criativo, é mais um filme de gângster onde todos morrem no final. Na mesma linha de Scarface, com o mesmo diretor e mesmo ator central (Al Pacino) trata-se de um triller quase comum, com traições, amores, amizades, etc. A singularidade está na história, na qual Carlito (Pacino), após sair da prisão por bom comportamento, na qual entrou por ser um dos maiores traficantes de heroína de Nova York (sempre ela), tenta levar uma vida honesta, lutando contra seus impulsos anteriores.
A boa atuação do ganhador do Oscar, que já apresenta o início de um personagem caricatural que ele incorporou e desde então nunca mais largou, acompanhada pelo excelente Sean Penn, o advogado e amigo que o tirou da prisão, já valem o filme. Palma, como sempre, ainda que seja um grande diretor, dá umas apeladas no final, do tipo por uns vinte minutos de perseguição daquelas bem batidas, o que dá uma estragada no filme. A conflituosa relação com o advogado parece ser para competir com o excelente "Cabo do Medo", de Scorcese, com grande atuação de DeNiro, da mesma época, onde este é um advogado que sai da prisão para se vingar de um cliente. Pra completar, Palma tenta fazer uma cena sensacional numa escada rolante, ao modo daquela que ficou famosa no seu "Os Intocáveis", dos anos 80, ficando tão apelativa quanto a primeira...
Por fim, nosso herói não consegue vencer os instintos, e seu fim é previsível, como o de todo bom filme feito para vender. Depois de assistir inúmeros filmes do gênero, fiquei pensando no porque fazem tanto sucesso. Parece haver algo mais do que banalização da violência, etc.
Tais filmes reproduzem, caricaturando o lado obscuro de nossa cultura ocidental, o da violência, a forma como vivemos e pensamos a sociedade ocidental. Os gângsters e policiais precisam ser frios e calculistas para vencer. Como nós no mercado moderno. Vencem os que tem melhores atuações individuais, os que ponderam cada detalhe. Em tais ficções, todo gângster sabe que precisa eliminar todos os seus inimigos. Adoramos ver Pacino ou De Niro matar seus inimigos. Nada parece mais instigante aos nossos instintos competitivos, sublimados na modernidade civilizada, sendo em sua fase atual o mercado altamente competitivo seu principal espaço de sublimação. Se pudéssemos articular a raiva que sentimos de nossos concorrentes no mercado, não acharíamos tão sensacional e ao mesmo tempo apavorante os finais dos filmes de gângsters. Eu queria ver algum grande diretor fazer um filme de gângster sem mortes. Se existe, não sei.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A NOVELA JACKSON

A novela midiática em torno da morte de Michael Jackson exprime bem o que a lógica da fama faz com a individualidade moderna. Quanto mais famoso, mais destruído. O narcisismo moderno, problema de todos nós (quem nunca se perguntou se não estava sendo narcísico em alguma ocasião?) é maximizado de acordo com a quantidade de flashs e câmeras. Está agora acessível em pequena medida, pela tecnologia, a todos, como nos orkuts da vida. Podemos ser observados. Mas também nos perder de uma vida comum, cotidiana, imposta pela mesma lógica ocidental da individualidade e da fama. Lados da mesma moeda. Michael se perdeu. Ainda em vida. Foi do céu ao inferno muito rápido. Infância negra e pobre roubada pela fama branca e rica. Todas as sociedades sobre as quais se tem registro ritualizaram de algum modo a morte. A ocidental moderna não é diferente, sensacionalizando a morte em proporção da fama em vida. A mesma proporção que a fama tira em vida da possibilidade de uma vida comum, simples e necessária.